"Literatura que não contribui
com o aperfeiçoamento do ser
humano é perversa ou inútil".

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A PAZ


 A PAZ
Lairton Trovão de Andrade

Viver com humanidade,
sem angústia nem paixão,
com toda serenidade,
é ter paz no coração.

Observar sua consciência
sem ter que chorar atrás,
é sentir doçura e ciência
do que seja estar em paz.

Quem habita bem a Terra
e age com tranqüilidade,
quem condena sempre a guerra
promove a paz e a amizade.

Ainda que haja injustiça
com a traição perspicaz,
a minha grande cobiça
é sempre viver em paz.

Com mais correta intenção,
como, de Abel, o penhor,
sobe ao céu minha oração,
pedindo a paz do Senhor.

Que meu Deus Onipotente
a todos derrame a graça
de ter a paz permanente
na vida de cada raça !

Sim, que possamos dizer,
sem nenhum remorso então,
com paz, amor  e prazer:
“Eu te abraço, meu Irmão”!

TUAS MÃOS


 TUAS MÃOS
Lairton Trovão de Andrade

Suaves mãos, mãos afeiçoadas,
De puros gestos, carinhosas;
Ó níveas mãos, mãos abençoadas,
Que coisa as fez assim formosas?

Macia palma, aveludada,
O dorso – cheio de expressão...
O que será tem de encantada
A placidez da tua mão?

E brandamente com ternura,
Amigas mãos, quentes, me vêm;
Não é paixão, não é loucura,
Mas essas mãos – o que elas têm?

Volvem pra mim tão docemente,
Como se, então, me dessem um beijo;
E no tanger mais complacente,
Com grande afeto eu sempre as vejo.

Mesmo de frágil compleição,
Fazem-me forte qual gigante;
Quanta magia em cada mão!
Por elas só, vou sempre avante.

Na branca palma da tua mão,
Soletro as sílabas da vida;
Eu vejo um “M” com paixão
– Centro do amor é a letra lida.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O LIVRO


O  L I V R O
Lairton Trovão de Andrade

O Livro é a nascente da sabedoria,
Da cega ignorância, o implacável crivo.
Dos homens de bem, o necessário guia
E da humanidade, o baluarte vivo.

Ele é a chave de ouro da educação,
Que afasta do mundo o pesar da incerteza;
É o amigo fiel que está à altura da mão,
Até nos momentos árduos de tristeza.

É o que dá vigor constante à inteligência,
Mesmo que se viva preso à solidão;
Grande companheiro e enlevo, com freqüência,
Que aprimora muito o brilho da razão.

Como é grande o Livro, verdadeiro mestre,
Que forma discípulo de exemplar conduta!
É o burilador do caráter agreste,
Que faz dele forte pra sem trégua luta.

A quantos, na vida, o Livro foi cortês!
De todo progresso é exímio construtor;
Jamais se ufanou do bem que sempre fez,
Dando, para muitos, louros de doutor!

Exemplo de livro é o romance relido
Que fala da vida, do amor e dos prantos;
Há livro, em quantia, de normas escrito...
– Excelente é a Bíblia, que é o livro dos santos.

Leia! Leia livro de requinte, amigo!
Ele tem valor sublime e universal;
Que o bom livro seja tal como um abrigo
Contra as investidas perenes do mal.

Oh, feliz daquele que, na cabeceira,
Tem livro de estudo ou da melhor leitura!
Terá mente farta em sua vida inteira
E alegria imensa de semear cultura.
 

RÊVE D' AMOUR


 “RÊVE D´AMOUR”
Lairton Trovão de Andrade

Hoje, ao me levantar, no alvor da aurora,
Com os gorjeios do sabiá, lá fora,
Senti um pesar que descrever não sei...
O amanhecer se abria em paraíso...
Para alcançar a luz do seu sorriso,
Abri meu piano e, pra você, toquei.

Mexeu comigo a melodia amena,
Foi refrigério doce de paz serena,
– Momento inesquecível que sonhei.
Em cada acorde revivi lembranças,
D´alma os turbilhões foram-me bonanças,
“Sonho de Amor”, só pra você, toquei.

“Revê d´Amour” hei de tocar com arte,
Quer n´alvorada, ou no cair da tarde,
Com a luz soturna e tênue do abajur.
O piano altivo, em lírico trinar,
Ponteia notas de fazer chorar
Cordas que vibram só: “Revê d´Amour”.

Belo noturno ecoou com ternura,
Canoro enlevo de arte egrégia e pura,
– Sublimidade nobre que busquei.
Misterioso amor – afeição qu dura
Na letra renovada de uma jura:
“Revê d´Amour”, só pra você, toquei...

O TEMPO


 O  T E M P O
Lairton Trovão de Andrade
 

Há quanto tempo
Eu perco tempo!

Só pode o tempo
Passar no tempo.
O tempo é tem
De todo tempo.

“Não perca tempo,
Pois esse tempo
Não volta no tempo.

Um dia terá tempo
Para lastimar do tempo
Que ficou no tempo”.

Oh, “tempora”!
Oh, “tempora”!

 ..................................

                                                        
Mas alguém do tempo
Vem, em tempo,
Interromper meu tem
Que escrevo do tempo.
Pede-me um tempo
Para dizer, com tempo,
Que só nesse tempo
Terá tempo.

Eu, sem tempo
Dou-lhe um tempo
E haja tem
Pra quem tem tempo
Que fala a todo tempo,
Sem se incomodar com o tempo,
Nem com o meu tempo.
Assim, meu tempo
Ficou sem tempo.

“Falei do tempo
A todo tempo...
Será que algum tempo
Ficou fora do tempo”?!

E por falar do tempo,
Como vai o tempo?

........................................


Fora do tempo:
"Quanto tempo
Foi gasto do seu tempo
Para a leitura do meu Tempo"?

E o tempo
Foi-se no tempo!..

PROFESSORINHA


 PROFESSORINHA
Lairton Trovão de Andrade
 
Professorinha de raras prendas,
Que já cedinho pra escola vens,
Olha a alegria das criancinhas!
– Essas gracinhas te querem bem.

O fino dote que te é pessoal
Fez-te princesa de muito juízo;
Há vida plena nas tuas formas,
Que sempre adornas com teu sorriso.

Queria ver-te de guarda-pó,
De ti pendendo qual níveo véu,
Serias linda pombinha branca,
A ninfa santa que vem do céu.

Esta fragrância das tuas aulas
A criancinha tanto extasia;
És alecrim – delicado ramo
Que o gaturamo pousou um dia.

E como a garça do lago azul,
Que já prendeu estes olhos meus,
Acaricias os filhotinhos
– Lindos filhinhos que não são teus.

Qual pelicano abri meu peito,
Pra dar acordes ao teu encanto;
Darei o ritmo à harmonia
E melodia para meu canto.

Pudesse eu ser algum trovador,
Ao som da lira ou de realejos,
Poesias lindas eu te faria
E te daria o melhor dos beijos.

Professorinha – cultura viva! –
O teu caminho é o melhor que há;
És uma luz lá no horizonte,
A doce ponte do “b-a-bá”.

Queria ver-te de guarda-pó,
De ti pendendo qual níveo véu;
Serias linda pombinha branca,
A ninfa santa que vem do céu.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

TROVAS DE PRIMAVERA


TROVAS DE PRIMAVERA
Lairton Trovão de Andrade

A primavera das flores,
com borboletas azuis,
inspira tantos amores
e alegra os tristes pauís.
             
*****
 
As flores da primavera
perfumam a natureza
e Deus-Criador dissera:
“Tudo o que fiz é beleza”!
 *****
 
Na primavera da vida,
há flores em plenitude;
a alegria colorida
floresce na juventude.
*****

ACALANTO


ACALANTO
Lairton Trovão de Andrade

"Como as tuas carícias
são deliciosas!" (Ct.4.10)


Minh´alma está triste
Como o triste pombo
Que na mata, ao longe,
Já perdeu seu ninho.
Se soluça o pombo
Seu amor perdido,
A minha´alma implora
Pelo teu carinho.

Doente está minh´alma
Qual ave ferida,
Que o mau caçador
Acertou-lhe o passo.
Infeliz , o pombo
Se apagando vai,
Eu, porém, protejo-me
No teu meigo braço.

Como aquele pombo,
Triste está minh´alma.
Coração ferido
A sangrar de dor.
Mas, serei feliz
Neste dia atroz,
Se em teu seio puro
Repousar eu for.

Ficarei quietinho...
Secarás meu pranto...
A paz voltará
Pra aquecer-me então...
Os teus lábios dóceis
Roçar-me-ão a face
E terei carícias
De uma leve mão.
                                                                           
 Oh,  delícia imensa!
Deixarei o mundo!
Fingirei dormir
No teu seio, ó linda!
E acordado, sim,
Sonharei contigo,
Sem eu crer que possa
Estar vivo ainda.

A TARDE


 A TARDE
Lairton Trovão de Andrade

A tarde vem caindo de mansinho,
Vencendo os raios últimos do Sol;
Esta hora tem cara de saudade,
Com lágrima irrigando o arrebol.

O amanhecer é sempre uma esperança
De realização em potencial;
Mas esta vida incerta sobre a Terra
É sorriso com lágrima de sal.

A tarde chora o dia que passou,
Pois um nada viu nele acontecer...
É sonho nossa vida sobre a Terra,
Nada é tão certo quanto o anoitecer.

A criança que nasce é uma luz,
Que enche de esperança a humanidade;
Mas quanta criancinha abandonada
Pede misericórdia e caridade.

Como é bom ter o amparo da riqueza,
Com pão e chocolate, em meio à glória;
Mas na pobreza extrema - na miséria,
É triste ser criança - é outra história.

Quando a noite chegar com negro véu
Para me conduzir à eternidade,
Encontrarei a luz do Novo Mundo,
Que me haverá de dar felicidade.

A tarde vem caindo de repente
- Mórbida luz desmaia no horizonte...
O passarinho voa para o ninho
e dorme com o buburejar da fonte.

EVA

Óleo sobre tela de Rafael Poeta

EVA
Lairton Trovão de Andrade

Feliz no paraíso estava Adão,
- Jamais se viu ali alguma treva;
Seria o paraíso escuridão,
se não brilhasse nele o olhar de Eva.

O êxodo de Adão do éden santo,
Naquela tarde, ainda malfadada,
Quebrou do éden todo o seu encanto,
Pois eva não mais tinha lá morada.

Não fosse a cuilpa inteira de Adão,
- Aquela sua soberba tão ousada -
Jamais havia perdido seu rincão,
Pois Eva, por ser Eva, era perdoada.

Tão longe do terrestre paraíso,
No mundo de esperança que se eleva,
Deserto ficou o éden, sem sorriso,
Sorriso era o deserto com a Eva.

O pobre do adão não teve juízo
- Guloso, a maçã foi devorar;
Podia, sem ter suor, no paraíso,
Ter tempo só pra a Eva namorar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

TROVAS [PARA O DIA DE FINADOS]


  TROVAS
[PARA O DIA DE FINADOS]
Lairton Trovão de Andrade

Saudade é feliz tormento
- perfume da ausente flor;
sem cessar um só momento
mistura prazer com dor.
***
Na ideia de eternidade,
relógio há, outrossim,
perante eterna verdade,
registrando hora sem fim.
***
O mesmo sino que bate,
bate por mim e por ti;
mas, o valor do quilate
cada um constrói em si.
***
Expulso do paraíso,
Adão com a triste sorte,
sem ter, nos lábios, sorriso,
sofreu, por sentença, a morte.
***
Feliz de quem, nesta vida,
só virtudes praticar;
há de ter força renhida,
quando o inverno lhe tocar.
***
No campo da eternidade,
os tempos não passarão:
Só há imortalidade
aos vivos que lá irão.
***
Eu busco seguro porto
onde posso me ancorar;
eu tenho ali meu conforto
na santa Estrela do Mar.
***