"Literatura que não contribui
com o aperfeiçoamento do ser
humano é perversa ou inútil".

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

FLORES QUE TE DOU


 FLORES QUE TE DOU
Lairton Trovão de Andrade

Abraça as flores que te dou,
São as mais belas do jardim...
- Nem mesmo o tempo as desbotou.

Receba as flores que colhi
Do alvorecer do infindo amor...
- Sinta a fragrância que eu senti!

As lindas flores que te dou
São versos nobres - voz do amor,
Que o meu viver te consagrou.

Só restam flores pra te dar!
Dobra-se humilde este meu ser...
-Não há mais nada pra sonhar.

Das cores vãs deste meu mundo,
Tudo é passado, é céu escuro...
- Vivo a dormir sono profundo.

Contempla as flores que te ornou!
- São poemas vivos de amor
Que a saudade imensa ditou..

DESEJO MAIOR


DESEJO MAIOR
Lairton Trovão de Andrade

Ao meu fim, quando eu chegar,
a Glória queria eu ter.
Por uma luta exemplar,
queria o céu receber.

Sei que, de Deus, não mereço
o gozo da eternidade;
mas tenho o santo endereço
do seu perdão e piedade.

Frágil sopro é minha vida
nos vales, vezes sombrios.
Com fé, em luta renhida,
vencerei monstros bravios.

Quando partir deste mundo,
Que tenha eu a certeza:
Que foi o amor mais fecundo
que me deu certa nobreza.

A velha Sabedoria
diz que a vida é passageira.
É vaidade e ninharia
a ganância rotineira.

Ao mundo cheguei desnudo,
que bens levarei comigo?!
Dê-me a graça, ó Deus, contudo,
de ter o Céu  por abrigo...

Quero, com o Pregador,
dizer entre tanto embate:
Dê-me a coroa, Senhor,
“Combati o bom combate”!

domingo, 27 de outubro de 2013

AMIGO DA ONÇA


 AMIGO DA ONÇA
Lairton Trovão de Andrade
 

O calor relembra o vento,
O vento relembra a semente,
A semente relembra o capim,
O capim relembra a vaca,
A vaca relembra o leite,
O leite relembra o queijo,
O queijo relembra o rato,
O rato relembra o gato,
O gato relembra o cão,
O cão relembra o gambá,
O gambá relembra a galinha,
A galinha relembra o ovo,
O ovo relembra o vira-lata,
O vira-lata relembra o tamanduá,
O tamanduá relembra o amigo da onça,
O amigo da onça relembra a traição,
A traição relembra a desconfiança,
A desconfiança relembra o fim.

RAPOSA FELPUDA


 RAPOSA FELPUDA
Lairton Trovão de Andrade

Raposa vil
Que não se assume,
"Troca de pelos
Não de costume".

Vive da astúcia
À noite inteira;
E tem, de dia,
Pata ligeira.

Riso rasgado
De tom matreiro,
Gosma na fala
De sorrateiro.

Raposa cínica,
Toda às avessas,
Que engana o mundo
Com suas promessas.

Na sua sina,
Mente pro leão,
Amarra a onça,
Engana o cão.

Campeia sempre,
Corre de dia,
Furta do povo,
Tem regalia.

Ao mundo inteiro
Finge amizade,
Mas ela tem
Só falsidade.

De rabo em leque,
Raposa esperta,
Em nossa trilha,
Sua vida acerta.

Tem avidez,
Dedo ligeiro,
Só faz estragos
No galinheiro.

Lá se vão dias,
Olha, Sinhá!
Esta raposa
Cheira a gambá.

Vulpino ser,
Vida traiçoeira,
Seu fim será
Numa ratoeira.

Dessa raposa
Fogo no rabo;
Que vá pros quintos!
Que vá pro diabo!

DANÇA NA FESTA


DANÇA NA FESTA
Lairton Trovão de Andrade

Na festa rolava a dança,
Com muito riso e alegria;
Nos dançarinos, pujança,
Muita coisa ali havia...

A sanfona até chorava,
Ao lado do bandolim;
E o pandeiro se mostrava:
"Dê olhadinha pra mim"!

Os pares tão agarrados
Sambavam pelo salão.
"As favas vão os pecados,
Que dance nossa paixão"!

Houve quem soltou a franga,
Em sinal de rebeldia,
E dançava só de tanga
Até ao raiar do dia.

sábado, 12 de outubro de 2013

O MESTRE


 O MESTRE
Lairton Trovão de Andrade

Raio incandescente de calor intenso,
Lume que incendeia inculta inteligência,
Cristalina lente de sabedoria,
A mostrar caminhos de verdade e ciência.

Onde está o limite desta mente imensa,
Que retém do mundo o segredo e o mistério?!
É bússola certa que indica o norte,
Oh! agulha sacra! - Sacro magistério!

É missão sublime de guerreiro forte,
Que no alvorecer determinou combate,
Dissipando as trevas da mente soberba,
- Ignorância e dores que o mundo abate.

Inefável dom que se formou no céu,
Vocação divina - missão abençoada,
Ensinar a arte de melhor viver
E dar o absoluto por um quase nada.

O mestre transcende às riquezas do mundo,
Não tem tempo algum pra garimpar o ouro;
É virtuoso artista a modelar espíritos
E fazer discípulo é o seu tesouro.

Não caminha à frente qual desbravador,
Nem arqueja atrás em espinhosa trilha;
De mãos dadas, lado a lado, com discípulos,
Pras veredas ricas mais e mais palmilha.

Rolando vaidades perante seu pés,
Riqueza amontoa, que não vê o ladrão;
A felicidade jamais é o "ter,
Porque nobre é o "ser", sua única paixão.

Vai levando a luz, em meio à escuridão.
E, assim, se transforma, o coração agreste;
Na pedagogia de um sublime amor
Bem gravado fica o espírito do mestre.

ESTRELA DO MEU CÉU


ESTRELA DO MEU CÉU
Lairton Trovão de Andrade

"Tu és bela, tu és formosa. "
(Ct. 4,1)

No céu da minha vida,
Há uma rara Estrela;
Na imensa nebulosa
Deslumbra-me em vê-la.

Do mundo nada almejo,
Se a tenho sempre bela;
É luz do meu caminho
A minha alva Estrela.

No abismo não te escondas,
- Adoro a minha Estrela!
Perdido eu estaria,
Se não pudesse tê-la.

Sozinho, minha Estrela,
O que podia eu ser?
- Seria escuridão
De eterno padecer.

Com vida de dez séculos,
Meu sonho nela eu pus;
A cada dia mais,
Verei a sua luz.

RIO PINHALÃO


RIO PINHALÃO
(Ribeirão Grande)
Lairton Trovão de Andrade
 

Águas mansas, mansas águas,
Que descem pelas encostas,
Brincando com redemoinhos,
Levam sonhos, levam mágoas,
Decepções cheias de crostas,
Em chorosos burburinhos.

Do Rio, em cada paragem,
De alegria ou de tristeza,
Há história pra contar;
A enchente que alaga a vargem,
Com a forte correnteza,
Arrasta histórias pro mar.

Como é imensa a saudade
Dos infantes gorjeios tantos
Em águas do Ribeirão!
Fora-se a felicidade
Que trouxera seus encantos
Às ondas do Pinhalão!

As flores das quaresmeiras
Povoam suas barrancas,
Matizando águas do Rio.
Sobre as verdes trepadeiras
Pousavam garcinhas brancas
Que voavam pro céu de anil.

Na altura do "Lavador",
Senhoras branqueavam roupas,
Num festival de alegria.
O ágil Martim Pescador
Prendia-se nas garoupas
Da pujante cercania.

E a traquina criançada
Saltitava em algazarra
Na prainha do "Razão".
Os gritos da petizada,
Como cantos de cigarra,
Zumbiam no Ribeirão.

O "Poção", a "Corredeira",
A velha "Ponte-de-Pedra",
O lago ameno da "usina"!
A brisa da "Amoreira",
Delícia que ainda medra
Até a saudosa "turbina"!

Extensa aguada em represa
Na "Ponte da Serraria"
- Cevada região pesqueira!
Ali, havia a certeza
De pródiga pescaria
De segunda à sexta-feira.

O Rio declina o planalto...
É mais bravio na ladeira,
- Protegido pela mata.
Tomba, espumejante, do alto,
Criando linda cachoeira,
Em dobres de serenata.

Que saudade eu tenho agora
Dos meus tempos de esperança
Nas margens do Pinhalão.
Saudade tanta se aflora
Dos dias quando, em criança,
Sonhava meu coração.

 
... E descem as mansas águas,
Descem pelas encostas,
Águas do rio que se expande...
Leva sonhos, leva mágoas,
Decepções cheias de crostas,
O calmo Ribeirão Grande.
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

QUADRA


QUADRA
Lairton Trovão de Andrade

Vê-se por estes cantos
quem tem ar de santarrão;
engana "todos os santos"
mas jamais o sacristão.

***
 
Quão misterioso é o amor:
Morre com a falsidade,
sorri para a linda flor,
sofre co´a felicidade.

***
 
Veja só que coisa louca:
Pobre coitado é o ciumento
- Tem raiva do guarda-roupa
e medo do que está dentro.

***
 
Quem só usa de trapaça
não tem uma vida longa;
cedo ou tarde bem de enlaça
na sua própria mironga.

MARILIA


MARILIA
Lairton Trovão de Andrade

"É gracioso o teu pescoço
entre os colares de pérola." (Ct. 1.10)


... E tanto sonhou,
Donzela inocente,
Em ter um amor,
Sublime e clemente,
Que fosse exclusivo
Com muito calor,
De puro romance.
Só mesmo de amor.

Sonhou com amor,
Menina inocente,
E um novo Dirceu
Surgiu-lhe na frente,
Com seiva de vida
- Real salvador -
De puro romance
Só mesmo de amor.

De um sonho visão,
Idílio de amor,
Beleza do lírio,
Rosáceas de odor,
Poema d´aurora,
Do autor juvenília,
Essência da ópera,
Oh, nova Marília!

O amor encontrou
Paixão neste amor,
Suspiros em versos,
Canção de louvor;
Se és a Marília,
Sou todo Dirceu,
Assino meu nome,
Marília, sou Eu!