"Literatura que não contribui
com o aperfeiçoamento do ser
humano é perversa ou inútil".

segunda-feira, 30 de julho de 2012

INVERNO


 INVERNO
Lairton Trovão de Andrade

Na região meridional
O inverno é desolação;
Caem as folhas das árvores,
Vai pro cemitério o ancião.

O inverno é paradoxal:
O dia é de céu azul,
A noite é toda estrelada,
– É poema a Região Sul.

Mas o intenso frio oprime
O orvalho da madrugada;
Ele é rijo e transparente
Qual vidro feito de geada.

Por vezes, quando amanhece,
De branco cobre-se a relva;
É a neve que atinge o verde
Até o da viçosa selva.

Já não há vegetação
Na pujante agricultura;
Agora, tudo é sem vida,
É silêncio e sepultura.

Muita vez, o inverno traz
A angústia duma certeza:
Só o resoluto trabalho
Vai combater a pobreza.

Sem nenhuma maldição,
O inverno é da natureza;
Nos solos ricos do Sul,
Renascerá a riqueza.

Também na vida da gente,
Irá o inverno chegar;
Mesmo que a gente se vá,
A vida irá continuar...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

COMO É A VIDA


 COMO É A VIDA
Lairton Trovão de Andrade

Paradoxo é a vida!

Vitórias e derrotas,
Sorrisos e lágrimas,
Flores e espinhos,
Encantos e decepções,                          
Saúde e dores,
Abundâncias e penúrias,
Felicidades e angústias,

Mundo cheio de glórias, de fantasias,
De momentos coloridos,  de vaidades...
De traições, humilhações, sofrimentos... mortes.
Vale, então, a sabedoria popular: “Do  limão, façamos limonada”!
Ou,dos estóicos: “Que  o sofrimento seja prazer”!
Ou, do “Poverello de Assis”: “Irmã neve... irmã pobreza”!
Ou, com Epicuro:  “Fujamos das perturbações da alma”!
Ou, quiçá, com o Cristianismo: “Cruz, tu nos salvarás!”

“Caminhando, cantando”, sorrindo, a vida é bela,
Para quem tira lições de perfeição, através do amor.
Assim, pois,  com Jesus Cristo,
o jugo será suave
E o  fardo há de ser leve.

POEMA SOMBRIO


 POEMA SOMBRIO
Lairton Trovão de Andrade

Palavras soltas, sem sentido algum,
Revoam sons, borboleteando à-toa,
Versos inversos de cores desbotadas,
Sombras que passam silenciando tudo.

Lágrimas áridas ferindo entranhas,
Choro de corações sem nenhum eco,
Deserto humano de securas tantas,
Alma sem vida – paradoxo estranho.

Tombara a flora por devassas mãos,
Agonizando os rios na destruição,
A terra infértil vem chorar seus frutos,
Que há tantos anos já não são provados.

Ó oxigênio, como és vil vocábulo!
Tudo perece neste mundo inglório,
Espaço inútil a atmosfera ocupa,
Onde a razão irracional tornara-se.

Ah, quanta dor existe nesta angústia!
Não sou de Shopenhauer nem de Nietzsche,
Mas vejo o desamor ferindo o mundo,
Com sofrimento à natureza humana!

E o que dizer da sangrenta guerra,
Da paz a morte que suplica vida?
O que será deste planeta insano
E destes seres que ideais tiveram?

Ó tu que amor profundo ainda sentes:
Tudo há de transformar co’amor somente,
Nenhum milagre salvará o Planeta,
Se o amor não for mesmo a vital semente!

NEM TUDO É ILUSÃO

  
NEM TUDO É ILUSÃO
Lairton Trovão de Andrade

Ontem teus lábios sorriam,
Hoje tua vida só chora;
Amanhã, novo momento,
Sem as tristezas de agora.

Os dias morrem depressa,
Os anos voam velozes;
Tudo passa de repente
Como a vibração das vozes.

É a criança que nasce,
É o ancião que se vai,
É o novo dia que surge,
É a negra noite que cai.

Nada mesmo permanece,
Mas que fique a esperança
De sempre te ver assim,
Com teus olhos de criança.

Tudo muda neste mundo
Repleto de ilusão;
Que bom se nunca mudasse
Teu bondoso coração!

Nuvem desmancham-se à-toa,
Os rios vão sempre pro mar;
Deus queira que o teu amor
Tenha sempre a quem amar.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FILHA DE JERUSALÉM


 FILHA DE JERUSALÉM
Lairton Trovão de Andrade

"Sou queimada pelo sol,
   mas sou bela..." 
(Ct. 1.5)

Tenro broto de Davi,
Uva-licor de Engadi,
Brisa de Jerusalém;
Teu ser é mirra e aloés,
Tua voz, tanger de oboés
- Sorriso puro que vem.

Da minha régia liteira,
De pedraria altaneira,
Contemplei Jerusalém;
Vi o cimo azul do Hebron,
A piscina de Hesebon
E a planície de Siquém.

Salve, plácida Sião,
Augusta força do Leão,
Olhos vivos do Leopardo;
Dá-me a tenda de Cedar,
Quero, de novo, sonhar
Com o perfume do nardo.

Junto à fonte d'Água Viva,
Recebi da bela Diva
Dourado favo de mel:
Um sorriso de donzela,
De esbelta boca singela,
Coberta com branco véu.

Quero que parta meu séquito
Com este exército intrépido,
Cheios de bajulação;
E as oitenta concubinas,
Agoureiras de rapinas,
Foram minha perdição.

Dá-me a púrpura do rei,
Minha voz é sempre lei
Pra toda escória daninha;
Adeus, óleo derramado,
Sombra triste do passado
- Uma só é a rainha.

Vem, minha formosa, vem,
Filha de Jerusalém,
Pras tendas de Salomão;
Sorverás os cinamomos
E as delícias destes pomos
Que brotam do coração.

No jardim das Macieiras
Descem límpidas cachoeiras
Regando mil açucenas;
Ali, a vida alvorece,
Lume de amor que floresce
Em gêmeas almas serenas.

Minha lira está ritmada,
O meu canto é alvorada
Até ao cume do Amaná;
Ó donzela de Sião,
Sou teu doce Salomão
E tu és minha Sabá.

Tenro broto de Davi,
Uva-licor de Engadi,
Brisa de Jerusalém;
Teu ser é mirra e aloés,
Tua voz, tanger de oboés
- Sorriso puro que vem.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O DIVINO POETA


 O DIVINO POETA
Lairton Trovão de Andrade

Sobrenatural poder
De criar mensagens salvadoras,
Fulgurante luz dos caminhos tortuosos,
Artífice de um mundo mais humano,
Eis o poeta no seu sonho sublime!

Traçar horizontes de esperança,
Faróis de fé nos corações,
Dizer: Já e não depois,
Fazer outros mais felizes,
Eis o poeta em missão altruísta!

Transformar poema em evangelho,
Ressuscitar corações para amizades,
Mostrar a vida que dignifica,
Dar olhos ao cego e voz, ao mudo,
Eis o prodígio miraculoso do poeta!

Plantar sementes de bondade,
Cultivar canteiros de amor,
Ver Deus-pessoa nas criaturas,
Ter no irmão a essência de si mesmo,
Eis a mística divina do poeta!

SE UM DIA


 SE UM DIA
Lairton Trovão de Andrade

Se um dia,
Quando contigo me encontrar
E ver teu olhar brilhante,
Qual diamante de um luzir cativo,
Direi para mim mesmo:
Meu Deus, esse amor é chama
Que muito inflama meu viver errante!

Se um dia,
Quando nosso olhar se encontrar
E meu passo a ti levar,
Quero que saibas: Eu vim de lugar distante,
Onde a saudade, em mim, fez ninho
E veio buscar todo carinho
De um ser querido e apaixonante.

Se um dia,
Quando de ti me aconchegar
E as lágrimas sufocar,
Direi aos teus ouvidos:
Delícia de um amor mais lindo,
Fica comigo, o amor é eterno
E o tempo, agora, é infindo...

Se um dia,
Quando o teu corpo eu abraçar
E teus róseos lábios beijar,
Falará minha emoção:
O amor abriu o meu sorriso,
Floriu meu coração,
Conduziu-me ao paraíso...

O VENTO


 O VENTO
Lairton Trovão de Andrade

Ah, o vento!
O vento que vem,
O vento que vai...
O vento que traz,
O vento que leva...
O vento  suave,
O vento violento...
O vento morno,
O vento gelado...
O vento do norte,
O vento do sul...
O vento que semeia,
O vento que destrói...
O vento que poliniza,
O vento que resseca...

Espero sempre
Pela chegada
Do bom vento, que traz
Os fluídos benfazejos dos ares,
Que nos conduz à vida, suavemente,
Salva das tempestades,
Que nos faz usufruir
Do calor agradável
Do respeito humano,
Que nos faz caminhar, seguros,
Rumo ao Norte da Perfeição,
Semeando a boa semente
Que humaniza corações,
Que poliniza multidões
Com  felicidade altruísta ...

CANASTRÕES


 CANASTRÕES
Lairton Trovão de Andrade
 
 
Politiqueiros "passa-bonés"!
Tais coronéis sem nenhuma insígna,
Que sugam sangue do povo ingênuo!
Morcegos vis de raça maligna!

Sessenta e quatro dente na boca,
Arreganhados para o eleitor.
"Cerveja vem, mais cerveja vai"
-- Politicagem de impostor!

Comprando votos com ninharias,
Milhões escondem -- conta danada!
Fazem gracinha com "verba" alheia,
Mas deles mesmos jamais dão nada!

O pobre enganam de mil maneiras.
Juram por Deus -- "Que honestidade"!?
Sempre se vendem pra quem dá mais
Até pra estranhos d'outra cidade.

Grandes arautos da corrupção!
"Quanta verdade nas suas propostas":
Só pensam em si, às custas do povo,
E, tendo votos, lhe dão as costas.

São parasitas do suor alheio,
Lobos famintos -- mal disfarçados;
Mansos cordeiros -- caras hipócritas,
Por fora são sepulcros caiados.

Dinheiro estranho comprando votos,
Promessas vãs para o povo insano;
Mas no poder vão encher a pança,
Enquanto o povo só leva cano.

Politiqueiros "passa-bonés"!
São coronéis sem nenhuma raça,
Que sugam sangue do povo incauto...
Tal palhaçada não tem mais graça!



sexta-feira, 20 de julho de 2012

APELO DA POESIA


 APELO DA POESIA
Lairton Trovão de Andrade

Meus versos são ecos que soam,
Que tangem quais vozes de um sino;
Vêm d´alma desejos que entoam
Compassos sagrados de um hino.

É a voz que ao deserto sacode,
O orvalho que rega a aridez,
A mão carinhosa que acode,
O braço que dá altivez.

Poema que canta a esperança
E clama com fé pelo amor,
Suplica que reine pujança
Ao fraco, infeliz sofredor.

Meus versos agora são gritos
Que amainam humildes plebeus;
Quer paz, quer bonança aos aflitos,
– Poesia é apelo de Deus.

QUEM É VOCÊ


 QUEM É VOCÊ
Lairton Trovão de Andrade

Suave  sombra, sombra divina
Que vem do céu – sobre mim se inclina,
Doce segredo, tênue mistério,
Talvez, oriundo do arcano etéreo.

Reflito e busco minha verdade,
Feliz pergunto, sem ansiedade:
Quem é você? – Preciso saber,
Pra ter sentido este meu viver!

Quem sabe, seja a brilhante luz,
Feliz vereda que me conduz!
Anda comigo, pega-me a mão,
E, pra mim,  canta linda canção.

Do rouxinol, talvez, seja a voz
Que assim me extrai  sentimento atroz,
Que balbucia em voz cativante:
Quero teu ser, minha glória amante!

Você é flor, meu terno alecrim,
Perfume esparge no meu jardim.
Existem flores no coração,
Florida está minha solidão.

Você é tudo que desejei,
Felicidade que mais busquei;
É minha paz onde quer que eu for
E o seu perfume ( ah !.. ) exala amor.

terça-feira, 17 de julho de 2012

CHUVA QUE CHOVE


 CHUVA QUE CHOVE
Lairton Trovão de Andrade

Chuva que chove...
Emoções que renascem
Com versos noturnos,
Em lindas canções;
Cantando na lida,
Ressurgem anseios,
Curando feridas,
Em mil devaneios;
No trato à semente,
Na vida da gente,
Que cresce no ser,
Que esparge no ter,
Chuva que chove,
Que diz: Eu sonhei,
Que diz: Eu amei,
E vivo a esperar
Alguém para amar,
Que sinta comigo
A  chuva que cai,
A chuva que chove,
Que chove esperanças,
Que chove conquistas,
Que chove saudades,
Que chove ilusões,
Que chove desejos,
Desejos de amar
Um amor sem igual,
Um amor imparcial,
Um amor eternal .
Chuva que chove...

QUE SÃO AS HORAS?


 QUE SÃO AS HORAS?
Lairton Trovão de Andrade
 
Que são as horas?
Ora, que são as horas!?

As horas são
a contagem ininterrupta do movimento
do veloz planeta
em que vivemos.

As horas são,
do passar do tempo,
a numeração.
O tempo que passa
morre no tempo presente,
que parte para o tempo futuro,
que se torna novo presente,
enquanto os seres e o mundo vão acumulando
cicatrizes do passado,
passado que não existe mais.

Que são as horas?

Na eternidade,
a hora é marcada
por um relógio que não tem
ponteiros e não tem números.
É a hora inerte - sempre a mesma -
sem passado nem futuro,
que não transcende do presente
para tempo algum.

Que são as horas?

Quando se está
num amoroso relacionamento,
as horas não importam,
porque o amor,
nesta hora,
é interação eterna
e o tempo está morto...
    morto...

SAUDADE, SAUDADE


 SAUDADE, SAUDADE
Lairton Trovão de Andrade

Ai, com que saudade
Agora relembro
Os dias felizes
Que alegre passei:
O tempo da infância,
Os lindos natais,
Folia de reis
E os carnavais.

Eu tenho saudade,
Saudade de tudo,
Das festas da igreja,
Da banda animada,
Das tardes risonhas,
Que felicidade!
Das Ave-Marias
Eu tenho saudade.

Saudade no peito
É dor e delícia
De um tempo que foi
E não voltará.
São vivas lembranças,
São só sentimentos...
Que viessem, de novo,
Aqueles momentos!

DEUS


D E U S
Lairton Trovão de Andrade

Há um Ser que nós não vemos,
que  jamais teve um “outrora”;
é o Eterno que nós cremos,
pois, há nele o “Sempre Agora”.

Seu poder e majestade
fez o céu, a terra e o mar.
A inexaurível Bondade
quis “Adão e Eva” criar.

Este Ser, nós o adoramos
e tem nome de  Elohim!
É o Infinito a quem oramos,
Fez morada em nós, oh,sim!

Ele é só Felicidade
que nos faz feliz em ser.
Nele está a Eternidade,
nosso futuro a viver.

Pensamento em pensamento
é  Deus, um sempre existir.
Ele é Amor – abrasamento,
só presente – sem advir.

Pra salvar a humanidade,
manda-nos seu Filho, o Cristo.
Por extrema caridade,
indica-nos seu aprisco.

Com divina providência,
o mundo preserva, oh, sim.
E, por sua onipotência,
de tudo é Princípio e Fim.

Quem, com atos, acredita
há de ser sempre abençoado;
gozará vida bendita,
será bem-aventurado.

Com muita fé e esperança,
dons que não têm os ateus,
selemos nossa confiança
de estarmos sempre com Deus.

sábado, 14 de julho de 2012

SUSPIROS AO LUAR


 SUSPIROS AO LUAR
Lairton Trovão de Andrade

Noite alta, Lua clara,
sinto vozes silenciosas.
Eu jamais imaginara
que o luar cheirasse à rosas.

A saudade, em plena noite,
com serestas ao luar,
é meiguice em doce açoite,
faz o amor não se apagar.

A minh´alma estremecida
por um bem além do mar,
sonha ter boa acolhida
com sussurros ao luar.

Ah, quem dera que esta Lua
não me fosse de ilusão!
Mas que fosse a face tua,
me aquecendo o coração!

Eu seria bem feliz
se este amor me fosse eterno.
O poeta assim bem diz:
Não teria mais inverno.

Mas enquanto a solidão
traz-me árduo mal-estar,
busco amor, talvez em vão,
com suspiros ao luar.

O SÍTIO


 O SÍTIO
Lairton Trovão de Andrade

Neste sítio, onde nasci,
Floresciam cafezais;
Terra cheia de magia
E de encantos naturais.

Todo o dia a passarada
Acordava a bela aurora,
Que trazia sol dourado,
Com fantasias à flora.

As arapongas da mata,
Os periquitos em bando,
No alpendre, o papagaio,
Pombas-do-ar arrulhando.

Com jacá de milho às costas
Vejo, ainda, o nego Tião,
Espantando mil rolinhas
Do interior do mangueirão.

A madrinha, com vasilha,
Saiu, às pressas, da tulha;
Assustada, de repente,
Gritou logo pela Júlia.

-“O que foi, Dona Sinh’Ana,
É esse pato faminto”?
-“Não! Não! Afasta pra mim
Essa galinha de pinto”! 

E tico-ticos peraltas
Ficavam o dia inteiro,
Roubando farta quirera
Dos patinhos do terreiro.

No calor do sol da tarde,
Garotos, no ribeirão,
Banhavam-se em algazzarra,
Vestidos tal qual Adão.

E na areia do riacho
Espreguiçavam-se patos,
Sob os olhares amigos
De dois cães e quatro gatos.

A pobre vaca, a Laranja,
Do Laudelino adquirida,
Sofria ataque esquisito:
Ficava doida varrida. 

Fazia-se rapadura,
Quando se moía a cana;
Os garotos alegravam-se
Com garapa de caiana.

À noite rangia o monjolo,
Pilando porções de milho,
Ou moía alvas mandiocas,
Das quais provinha o polvilho.

Na época da colheita,
O cafezal era rubro;
Colhia-se o café,
Que secava até outubro.

Os freqüentes mutirões
Reuniam a rapaziada;
À noite, o fandango e o baile
Davam vida a madrugada.

A gaita de oito baixos,
Viola, pandeiro e violão
Soavam, em serenata,
E acordavam o grotão.

Naqueles bailes de outrora,
Dançava-se muito a gosto:
O cavalheiro vestia
Máscara preta no rosto.

Quanta saudade do sítio,
Do sítio, onde nasci,
Pois lá nasceu minha infância,
Da qual jamais me esqueci.

Hoje mudaram-se os dias,
Mas com sentimento e fé,
Minha infância ainda sinto,
Lá no sítio São José.

quinta-feira, 12 de julho de 2012


 
Lairton Trovão de Andrade

Ainda que um ser social eu seja,
Que adore, dos semelhantes, o convívio,
Que, em contato com pessoas, tenha vivido profissionalmente,
Ainda assim, muitas vezes, eu gosto de estar só,
Eu preciso ficar só:
Só – em companhia de mim somente.

Quando estou só, não me sinto em solidão:
Dou asas ao meu pensamento,
Tenho sonhos  em preto e branco,
Sonhos coloridos, lindos,
Construo castelos,
Encontro a princesa mais bela,
Faço poemas,
Escrevo trovas,
Componho silenciosas melodias,
Desenvolvo um pensamento filosófico...

Ah, como sou feliz quando estou só:
Eu medito,
Eu discuto,
Eu canto,
Eu grito...
Sou barulhento
Nas profundezas do meu silêncio.

Quem não é capaz de ficar só
É vazio em seu interior,
Não tem razões para pensar,
Nem para sonhar,
Nem de gostar de si.
Então, quando só,
Vive em solidão,
Na  solidão  que o aprisiona,
Que o esmaga brutamente
com ruídos ensurdecedores.

Mas eu preciso, às vezes, estar só,
Para que possa produzir algo de bom,
Para sentir o interior da minha alma,
Para renovar minha esperança,
Para fortalecer minha fé,
Para me encontrar com o Onipotente
E, em oração contrita, dizer:
“Obrigado, meu Deus,
Porque não fico só
nem quando estou só”!..

quarta-feira, 11 de julho de 2012

LAURÉIS


 LAURÉIS
Lairton Trovão de Andrade

Tua face é formosa,
É quente a tua mão,
Porém, muito mais
É o teu coração.

Teus lábios vermelhos
Só trazem saudade,
Porém, mais ainda
Traz tua bondade.

Teu timbre de voz,
Por si, tem alento,
Mas nada supera
Teu temperamento.

Cabelos em pluma
Qual véu de inocência,
Mas nada ao valor
Da tua consciência.

Teus olhos são virgens,
Teus seios - candura,
Mas quanto é maior
A tua alma pura.

Tua boca é preciosa
Como ouro de lavra,
E não se compara
Com tua palavra.

Teu ser é perfume
De mil manacás,
Mas é superior
O amor que me dás.

Teu ser, por inteiro,
É bela canção;
És letra de um hino,
És minha oração.

HOLOCAUSTO


 HOLOCAUSTO
Lairton Trovão de Andrade

Os hinos que estão esquecidos,
Os dias que mal os vivi,
Os sonhos que não os sonhei,
Os versos que nunca escrevi...

Do fundo do mar o negrume,
O hélio apagado do Sol,
A Lua coberta de nuvem,
O já desbotado arrebol...

A triste canção sem o ritmo,
A minha poesia sem nome,
A feia pintura que eu fiz
E o mais infecundo pronome...

O eclipse total lá do Sol,
O velho que está com pavor,
O choro dorido do Iraque,
O jovem que não tem amor...

O ozônio queimado do céu,
A bomba que já explodiu,
A prole sozinha sem pai,
A boca que nunca sorriu...

A Deus ofereço esta dor,
- Eu juro, não sou o Caim -
Que o Deus do Universo e do Amor
Perdoe, por ti, o erro em mim!

A mãe que matou seu bebê,
O ódio malvado do irmão,
A luta sem trégua do lar,
Do mundo a violenta paixão...

A luz do olhar deste cego,
A voz deste mudo cantor...
Suspiro de ave sem ninho,
Amigo caído com dor...

A vil poluição destrutiva,
Aquele progresso mortal,
A luz apagada da morte,
A fúria de um vendaval...

A louca corrida das drogas,
A promiscuidade sexual,
A aids com sua mortalha,
O reino tão negro do mal...

A paz lá da guerra funérea,
A sede do irmão nordestino,
A fome de todos os homens,
A culpa sem fim do destino...

A Deus ofereço esta dor,
Embora não seja o Caim,
Que o Deus do Universo e do Amor
Perdoe, por ti, o erro em mim!

terça-feira, 10 de julho de 2012

QUE É POESIA


 QUE É POESIA
Lairton Trovão de Andrade

* Marco inicial da Literatura?
* Voz da emoção?
* Filosofia em verso?
* Mensagem sublime?
* Divagação da fantasia?
* Descrição de um sonho?
* Expressão artístico-literária do sentimento?
* Melodia sem nota musical?
* Palavras razoáveis em versos incompreensíveis?
* Gênio da imaginação?
* Segredo de um romance?
* Dança rítmica das palavras nos versos?
* Imaginação com vestes de inteligência?
* Mensagem do coração ao cérebro?
* Materialização do inexistente?
* Sorriso dos românticos?
* Desabafo dos angustiados?
* Lenitivo dos sofredores?
* Açoite dos desumanizados?
* Mística da Literatura?
* Realidade do sentimento?
* Letra de um hino?
* "Strip tease" da alma humana?
* Palavras perdidas de uma literatura inútil?
* Racionalidade do coração?
* Oásis do deserto literário?
* Forma da ópera?
* Mistério da Literatura?
* Musa das palavras inspiradas?
* Última estância da arte literária?

LUX ET LUX


 "LUX ET LUX"
Lairton Trovão de Andrade

Há dois mil anos brilha imensa Luz,
Gerada pela própria Eternidade;
O sacrossanto lume é Deus - Jesus,
Revestido com nossa humanidade.

Encarnou-se o Deus Onipotente
No seio puro e virgem de Maria;
Sem essa humildade complacente
O Homem-Deus jamais nos nasceria.

O homem orgulhoso a si se induz,
Fala em Jesus e finge amar Maria;
A santa encarnação nos deu Jesus,
- Sem a Mulher, do mundo o que seria?!

Como consegue alguém amar Jesus,
Se não amar a Virgem Mãe, Maria?
Se Jesus é razão plena da Luz,
Maria é da Luz santa poesia.

Homens de fé mostarda. amem Maria!
Não receiem o ciúme de Jesus!
Sem Maria, Jesus nunca seria
O Sal da Terra - nem do mundo a Luz.

Presta agora atenção, amigo, e vê:
Quem do mundo sua mãe não amaria?
Pois, se muito Jesus ama a você,
Mais ainda deve Ele amar Maria.

TROVA


 TROVA
Lairton Trovão de Andrade

O mais feliz sentimento
deixa o mundo multicor,
possui delicioso alento
e o doce nome de AMOR.

TERRA PROMETIDA


TERRA PROMETIDA
Lairton Trovão de Andrade
(1967)

 
Quando a selvageria d'outros reinos
Massacravam varões, damas e gênios
- Os imortais condores alpinistas -
A ambição do povo lusitano
Cruzava mil correntes do oceano,
Em busca de históricas conquistas.

Do Himalaia as torres repentinas
Não divisavam "aves de rapinas",
Revoando em torpes potentados;
A inocência do Ganges, em Bengala,
Revelava aos "chacais" brilho d'opala
No imenso-além do jângal mergulhados.

Então, o reino airoso do rajá
Sentiu a derrocada em Calcutá
Retumbar no país do Paquistão;
Nem os bravos sultões do bramanismo
Contiveram o longo cataclismo,
Sacudindo riquezas da região.

Pérolas, cristais, âmbar e diamantes
- Riquezas de valores empolgantes -
Rolavam pelos mares e savanas...
Safiras, rubis, pratas e marfins,
Usurpados por falsos mandarins,
Cobriam infindáveis caravanas...

A proeza do Mor Capitão Gama
Demolira os mistérios do deus Brama,
Escondidos nos místicos hindus;
E a arma lusitana, em dia etéreo,
Oficiou gravar âncora do Império
Nos indianos outeiros, hoje... nus.

De Manuel Venturoso o patriotismo
Plantara nos sequazes heroísmo
E, no além-mar, conquista  Portugal;
Disciplinado "bando da matilha"
Descobriria a mais famosa ilha,
Sob a bandeira astuta de Cabral.

Nas sonolentas ondas de Lisboa,
Venturoso marujo, lá da proa,
Debruçava submerso adeus às plagas...
Foi quando o antigo Tejo esperançoso
Sonhou ouvir o canto buliçoso
Do pindorama íngreme dos piagas.

Mas o fatal tridente de Netuno
- Horrível, poderoso, inoportuno -
Abriu milhões de portas aos tufões;
Furioso maremoto - inferno d'águas -
Ergueu em cataratas grandes vagas,
Rugindo sobre as naus como vulcões.

A borrasca em remoinho, que amedronta,
Às ondas do horizonte trouxe afronta,
Levando de Ataíde a pobre nau;
E o rochedo vil, lúgubre e insano
- Escudo portentoso do oceano - 
Puniu a violação de Portugal.

Ante o irado rebu do mar cruel,
Surgiu Cabral no centro do escarcéu
Qual talismã impávido de Zeus;
Sua voz confiante e forte, impondo a calma,
Vibrou co'a extrema fé da essência d'alma:
"Senhores, nossa bússola é Deus"!

A brisa desfizera a negra bruma,
Movendo carinhosa e branca pluma,
Sobre as águas revoltas com oceanos;
Singravam juntas, sobre ondas fendidas,
Vozes incultas, doze naus perdidas,
Cortando espumas que geraram Vênus.

Canções secretas, muito além, nas plagas,
Sussurando, através das longas vagas,
Transmitiam saudades vãs do lar...
Desfalecidos risos flutuavam...
Dissimuladas dores soluçavam
Lágrimas de sal sobre o sal do mar...

No acalentar geral de ocultas vozes,
Sempre flutuando iam doze nozes
No silêncio que a dúvida encerra...
Pronto! o nauta acordou... viu aves no ar...
Ervas, em rodopios, n'água do mar...
Uma esperança viva bradou:... Terra!

E a frota lusitana, em grande festa,
Estacou ante cálida floresta,
Que se alçava além do areal...
A brisa, balouçando a ramagem,
Descobria a epopéia d'uma imagem
- O suspiro e febril Monte Pascoal.

Sob nuvens de gaivotas turbulentas,
Cansadas naus - pacíficas e lentas,
O porto tropical foram beijar...
As montanhas de raras pedrarias
E das valas pauis, em agonias,
Aspiravam também à luz brilhar.

O conselho da tribo arrefecida
Reuniu-se na ocara envelhecida,
No flautear tão choroso do boré...
E invocava o ardil da boicorá...
E clamava a vingança de Anhangá...
E dançava, em delírio, o pajé...

Junto à rede trançada de cipó,
Cismava o degredado, sempre só...
E fugiu pela selva mais daninha...
Em meio ao farfalhar torvo de fera,
Pressentiu um poema à nova era,
Escrito pela pena de Caminha.

Mas os índios da taba perturbada
Escalaram a trilha já sulcada,
Sob o grito atenuado do cacique.
Viram Deus de Tupã surgir glorioso,
Sob a forma do trigo misterioso,
Aureolando as mãos de Frei Henrique.

O reino português fez jus às terras,
Das planícies aos píncaros das serras,
Mergulhados nas nuvens lá dos céus.
Tendo uma cruz - por cívico estandarte,
Um altar - por egrégio baluarte,
E o testemunho ínclito de Deus.

"Ilha de Vera Cruz, marca sagrada,
Pelo Cruzeiro altivo perpetuada
No regaço da Pátria estremecida;
Este solo, emanando leite e mel,
Jamais vistos nem mesmo em Israel,
Tem o nome de TERRA PROMETIDA!

CINDERELA


CINDERELA
Lairton Trovão de Andrade
 
Há tanto desengano que me intriga,
Que, não poucas vezes, me castiga
Sem nenhuma piedade.
Meu refrigério de consolação
É saber onde está meu coração,
Por quem vale a saudade.
 
Como posso viver sem esse amor?
Só nele encontro todo meu vigor
E paz na solidão.
És a minha princesa desejada,
Encantos raros de afetuosa fada,
Grande amor e paixão.
 
Busco-te muito! - Almejo teu olhar,
Que, apaixonado, amor quer encontrar
Pra saciar seus desejos...
Do meu caminho clara luz, vem logo!
Não mais demores! Escuta meu rogo!..
- Terás milhões de beijos.
 
Beijos de cavalheiro apaixonado,
Beijos ternos de um príncipe encantado
Por sua princesa bela.
A vida é breve! Veloz é o tempo!
Em pensamento, eu sempre te contemplo,
Ó minha Cinderela!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

AQUILO QUE A GENTE SENTE


AQUILO QUE A GENTE SENTE
Lairton Trovão de Andrade

No íntimo segredo do meu ser,
Ante  os mistérios da vida que percorro,
Relendo  arquivos do passado,
Perscrutando  anseios do presente,
Indagando sobre incógnitas do futuro,
Eu me encontro comigo mesmo,
Desejoso de saber sobre a essência
Que me sustenta no inefável do existir.

Compreendo que no âmago do meu ser
Uma realidade existe que ultrapassa o tempo,
Que as rugas do envelhecimento não podem atingi-la,
Que somente a vida na virtude a edifica,
Deixando-a sempre bela e incorruptível,
Com o evoluir pleno de suas formas,
Para o infinito sublime da perfeição.

Ali,  me deparo com a essência imutável,
Raiz motriz da própria humanidade,
Humanidade que está em mim, em ti, em todo mundo,
Fonte primeira da esperança, da fortaleza, do amor
 – de toda humana realização,
Que justifica a transcendência do ser feliz
Na perenidade do existir absoluto...perfeito.
Isso tudo, na continuidade da existência, é
“AQUILO QUE A GENTE SENTE”... ,
Entende e proclama.

OS CIGANOS


OS CIGANOS
Lairton Trovão de Andrade

Dos meus tempos de criança,
Eu me lembro dos ciganos
Que de longes terras vinham,
Tendo, por teto, o céu aberto
E, por morada derradeira,
As mais longínquas estrelas...

Oh, como me lembro
Daqueles terrenos baldios,
Daquelas tendas surradas,
Das carroças, dos cavalos,
Do ruído das bigornas
Ao crepitar da fogueira...

Lembro-me, sim,
Dos dourados tachos de cobre,
Dos ferreiros golpeando em coro,
Fazendo o ferro vibrar
Nas matinas e serenatas...

E à noite, oh, que emoção!
As ciganinhas tão lindas,
Com suas danças românticas,
Rodopiando coloridas
Em festa de tradição...

Tenho saudade tanta
Do timbre que inda me encanta,
Voz límpida de soprano,
Da cigana matriarca,
Que entoava antiga paixão,
Que fora seu ledo engano,
Sepultado num coração...

Lembro-me agora – e quanto! –
Da cigana vidente
Que, antes de ler a mão,
Lia os olhos da gente,
E , no pulso, o coração
Sentia de quem sonhava
Em ter a felicidade.

Dos ciganos, de que falo,
Que carinhoso um dia os vi,
Que o tempo os levou daqui,
Com asas de liberdade,
Só me restou lembranças
E um poema de saudade...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

VOZ DE POETA



VOZ DE  POETA
Lairton Trovão de Andrade

Contemplo,
Com alma de poeta,
O nascer da aurora,
O brilho do sol,
A pureza dos lírios.

Contemplo,
Com sentidos de poeta,
O canto dos pássaros,
O colorido das borboletas,
A lira da primavera.

Contemplo,
Com espírito de poeta,
A beleza do mundo,
A poesia da arte,
A grandeza da humanidade.

Contemplo,
Com sonhos de poeta,
O fim da corrupção,
A honestidade e o progresso,
O amor entre os irmãos.

Contemplo,
Com crença de poeta,
A lição das dores,
O  perfume das flores,
A  força do amor.

Só me resta poetar,
Traçando lições de vida
Ao céu, à terra e ao mar...
Que todo vivente, um dia,
Claramente, em boa meta,
Possa repetir feliz:
“Bendito és tu, para sempre,
Mística VOZ DE POETA”!